Ecocentro é inaugurado para o fortalecimento da sociobioeconomia na Amazônia

Evento contou com a presença de ministras do Brasil, Alemanha e Noruega, autoridades locais e representantes de movimentos sociais, sindicatos e cooperativas da região Oeste do Pará

A inauguração do Ecocentro da Sociobioeconomia foi realizada na manhã desta sexta (19) em Santarém. O evento contou com a participação da Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva que visitou o espaço que vai ser utilizado por produtores e empreendedores para o fortalecimento da sociobioeconomia na região. Além de Marina, estiveram presentes a Ministra de Desenvolvimento Econômico e Cooperação da Alemanha, Svenja Schulze, e a Ministra de Desenvolvimento Internacional da Noruega, Anne Beathe Tvinnereim, países que são apoiadores do Fundo Amazônia, gerido pelo BNDES, principal financiador do projeto. Autoridades locais, comunidades, parceiros e apoiadores fizeram parte do momento.

A proposta do Ecocentro é facilitar a agregação de valor e a comercialização da produção agroextrativista de base comunitária da região oeste do Pará, como um pólo de multiprocessamento, armazenamento e comercialização de produtos da sociobioeconomia.

 “Queria dizer que se Chico Mendes estivesse aqui, ele ia ficar muito feliz de ver que a sua luta não morreu, que está mais viva do que nunca. Aquilo que antes foi usado para nos explorar, agora é usado para proteger a floresta, os povos indígenas, as comunidades tradicionais, os rios e a mudança climática que nos assola” disse a Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

A comitiva visitou espaços que formam o complexo do Ecocentro, onde antes funcionava uma antiga usina de processamento de borracha, que foi reformada e estruturada como uma indústria, com equipamentos e tecnologia de ponta que vão auxiliar no envase e embalagem do mel de abelhas nativas, conservação  de polpas de frutas, extração de óleos vegetais e essenciais, destilação de copaíba e outros insumos. 

Ministras do Brasil, Noruega e Alemanha visitam espaço de processamento de óleo no Ecocentro

O empreendimento é resultado de uma soma de esforços da Cooperativa dos Trabalhadores Agroextrativistas do Oeste do Pará (ACOSPER), do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares do Município de Santarém (STTR), com suporte técnico do Projeto Saúde e Alegria (PSA), por meio do Programa Floresta Ativa que vem fortalecendo cadeias produtivas da sociobieconomia através de assistência técnica, investimentos em assessoria para negócios e capacitação empreendedora e cooperativista, em uma perspectiva de valorizar a economia da floresta em pé. Envolve uma ampla rede de parceiros e apoiadores, cooperativas, movimentos sociais, ONG’s, empresas e fundações privadas nacionais e internacionais, atores institucionais (governo em suas diversas instâncias), instituições de ensino e pesquisa.  

“O que estamos fazendo agora é reativar a cadeia de abastecimento para uma indústria. A gente está montando uma indústria que pretende fornecer volume de óleos essenciais para a indústria de cosméticos e alimentícia, em escala. A gente pretende processar de 30 a 40 mil sementes de andiroba por ano na unidade. É um processo em construção e andamento, hoje podemos avaliar que diretamente em torno de 500 famílias já estão sendo beneficiadas pelo empreendimento, mas a expectativa é que em breve esse número possa até dobrar.” comentou Davide Pompermaier, coordenador do Programa Economia da Floresta do PSA sobre os resultados já avaliados da atuação do Ecocentro.

A presidente do STTR, Maria Ivete Bastos, celebrou este momento: “Que a gente possa acreditar sempre e que a gente possa continuar construindo e zelando por essa Amazônia, que possa cada vez mais ser valorizada e que tudo aquilo que vem contra a Amazônia, a gente possa combater e lutar. Viva o nosso Ecocentro, que possamos cada vez mais gerar muitos frutos através desse projeto.”

Com contratos já assinados com grandes empresas como a Natura, que compra o óleo de andiroba e copaíba, e da fabricante de tênis Veja, que compra a borracha, o local está habilitado para negociações com outros empreendimentos, além da venda direta aos consumidores locais, que poderão visitar o espaço e adquirir  óleos de andiroba e copaíba, mel de abelha sem ferrão, dentro outros produtos manejados por produtores da Resex Tapajós-Arapiuns, Flona Tapajós, Pae Lago Grande e Várzea.

“O Ecocentro é uma prova de que é possível outro tipo de desenvolvimento, baseado na floresta em pé, de  base comunitária, com distribuição de renda e inclusão produtiva. A gente começou lá atrás apoiando as organizações, as associações de produtores e as cooperativas, nas comunidades, nas aldeias para poder melhorar a produção familiar, melhorar a agricultura. E isso começa a gerar frutos, gerar mais renda ao agregar valor e ao invés de vender semente, comercializar na forma de óleo e na forma de manteiga, por meio do Ecocentro, que é em espaço de venda e comercialização” disse o Coordenador do PSA, Caetano Scannavino.

Para a ACOSPER, o início das atividades no Ecocentro representa o resultado de parcerias e uma conquista para agroextrativistas da região, além do fortalecimento da sociobioeconomia regional.

Diretor-presidente da ACOSPER fala sobre a realização de um sonho

“Este sonho que está sendo realizado é fruto de uma luta histórica que vem do movimento sindical e de parcerias. O Ecocentro, apesar de estar sob a responsabilidade da ACOSPER, é um empreendimento para a região e vem atender principalmente os agricultores e extrativistas da nossa região. É um momento histórico e emocionante para todos nós dessa categoria.” disse o diretor presidente da associação, Manoel Edvaldo Santos. 

“Quando se fala em floresta viva, floresta em pé, a gente entende que esse é o real significado de manter a floresta em pé. Agregar valor ao produto, que até então era mandado pra fora, agora agrega valor, emprega, gera renda e cria a perspectiva da permanência no nosso povo na floresta” afirmou o Secretário de Meio Ambiente de Santarém, João Paiva. 

Para o Secretário Estadual de Agricultura Familiar do Pará, Cássio Pereira, o Ecocentro é exemplo de desenvolvimento.

“Esse Ecocentro traz um símbolo do que é realmente aterrizar, colocar no chão, a sociobioeconomia. A gente precisa reproduzir outros, seguindo esse exemplo. O nosso papel é esse, reproduzir isso aqui, produzir alimentos, valorizar a sociobioeconomia” pontuou.

A construção do Ecocentro só foi possível a partir do apoio do Fundo Amazônia/BNDES, com recursos de contrapartida de outros parceiros do Projeto Saúde e Alegria, seja com investimentos na infraestrutura, maquinários, como nas capacitações, assessorias e demais etapas do processo produtivo. E a parceria de organizações como a Rewild, CAF, Natura, FUNBio, WWF Brasil, Erol Foudation, CLUA, União Européia, Good Energies, Conexsus, Imaflora, Mott Foudation, Instituto Clima e Sociedade, Fundação Toyota. O gerente de Relações Institucionais do Fundo Amazônia/BNDES, Rodrigo Tosta, disse que só é possível por conta da parceria de quem acredita no impacto do Fundo e acrescentou: “Aqui a gente vê o que é uma parte dessa entrega, a concretização desse trabalho do Fundo Amazônia.”  

 

O ECOCENTRO

 

Ecocentro de Sociobioeconomia em Santarém

O Ecocentro é um empreendimento estratégico da Acosper, planejado de forma modular, com as instalações iniciais em duas estruturas físicas:

  1. Agroindústria – Galpão de Beneficiamento: Nesse espaço, os técnicos operam máquinas para processar óleo de andiroba, semente de cupuaçu e óleo de copaíba. Esses produtos são essenciais para a economia local e têm grande potencial de mercado.
  2.  Casa do Mel de Abelhas sem Ferrão: Além dos óleos, o Ecocentro também abriga uma estrutura dedicada à produção de mel por abelhas sem ferrão. Essa iniciativa está alinhada com a estratégia dos cooperados da Acosper, proporcionando oportunidades para as famílias envolvidas. Com o selo de inspeção da Adepará, o mel está apto para comercialização.
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Author: vozesdotapajos